Carta de Princípios da UNEGRO

Os militantes da União de Negras e Negros pela Igualdade no território brasileiro, reunidos no seu Iº Congresso Nacional na cidade de Jacareí (SP), em maio de 2000, resgatando a tradição dos lutadores das causas dos negros brasileiros como Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin, Luiz Gama, Aqualtune, Helenira Rezende, Solano Trindade, João Cândido e os líderes da Revolta dos Búzios, e tantos outros que deram suas vidas pela construção de uma sociedade justa onde os afrodescendentes pudessem exercer, de fato, o seu legítimo direito de cidadania, evocando a condição de sujeitos históricos com a nossa felicidade guerreira declaram publicamente que seguirão e defenderão fielmente os princípios abaixo listados:

  1. Combater o racismo em todas as suas formas de manifestação, particularmente as ações sistêmicas que impedem o usufruto pleno dos direitos de cidadania.
  2. Combater todas as formas de discriminação de gênero, sistemáticas ou não, particularmente aquelas que afetam as mulheres negras, maiores vítimas do sistema racista e machista.
  3. Combater a exploração de classe em todas as suas manifestações, colocando-se ao lado dos interesses da classe proletária na sua luta plena pela emancipação do capital.
  4. Defender intransigentemente a autodeterminação dos povos.
  5. Defender os legítimos direitos de todas as manifestações culturais e religiosas de matriz africana, lutando contra a sua folclorização e apropriação indevida pela indústria cultural.
  6. Solidarizar-se com a luta de todos os movimentos sociais e populares que se coloquem no campo progressista.
  7. Combater o genocídio que o imperialismo pratica contra os povos africanos e afrodescendentes e das nações da periferia do capitalismo, genocídio este que se manifesta pela incitação às guerras pela indústria de armamentos, exploração das riquezas minerais e florestais, descapitalização das nações via o sistema financeiro internacional.
  8. Combater o neoliberalismo por entender este novo padrão de acumulação de riquezas como uma moderna forma de genocídio das populações não brancas.

Nós, militantes da Unegro no território nacional, declaramos publicamente que defenderemos estes princípios de forma consciente e voluntária, como parte de um projeto de construção de um futuro feliz para as nossas futuras gerações.

São Paulo, maio de 2000.