90 anos de Lélia Gonzalez: Papo Reto, Consciência e Militância

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Parida em 1935, Lélia Gonzalez (1935-1994) era e continua sendo uma intelectual, ativista e professora brasileira que se destacou por uma abordagem que transava questões étnico-raciais, de gênero e de classe, tendo se tornado uma referência nos debates no Brasil e na América Latina. Mesmo depois de ancestralizar, Lélia continua viva na memória do nosso povo. Formada em História e Filosofia, Lélia desempenhou um papel inquestionável dentro da militância e do ativismo negro brasileiro.

Sua principal contribuição é sua atuação militante atrelada à sua produção intelectual, produção esta que visa a superação do colonialismo, do patriarcado e do capitalismo, pra ela a teoria só fazia sentido se tivesse a prática, se servisse pra mudar a vida do nosso povo. Não dá pra ficar só no papo acadêmico, tinha que botar a mão na massa e enfrentar o sistema de frente, e esse é o legado de Lélia para nossa geração, principalmente para a geração de cotistas negres do ensino superior.

Lélia fez da academia seu campo de batalha, ocupando espaços estratégicos e hackeando a lógica do conhecimento elitista. Ela desmontou a produção de saber da branquitude, escancarando como essa estrutura não dava conta — e nem queria dar — da luta antirracista, antipatriarcal e anticapitalista. Sua revolução foi virar o jogo, colocando os nossos saberes no centro, não como objeto de estudo, mas como fonte legítima e potente de conhecimento. Onde antes a academia via apenas corpos marginalizados, Lélia enxergou uma produção de saber atrelado à prática, capaz de construir um bem viver.

Pra que sua produção estivesse fincada na luta, participou da escola de samba Quilombo, participou de jornais militantes que visavam conscientizar a população, atuou  em conferências da onu, construiu ativamente o Movimento Negro Unificado,é uma das fundadoras do PT, foi candidata a deputada pelo PT e depois pelo PDT , funda o Coletivo de Mulheres Negras Nzinga, participou do o primeiro encontro nacional de Mulheres Negras, esteve em protestos de rua, deu formação para o conjunto da militância, ou seja, Lélia não achou que simplesmente ser uma intelectual critica fosse suficiente, pelo contrário sempre esteve na luta por entender que o ocnhecimento libertador só podia ser produzido na luta e pela a luta.

Sua língua, como uma faca, cortou o véu da democracia racial para que a realidade viesse a tona. A partir da ocupação e apropriação da psicanálise, Lélia interveio na produção academica a respeito do povo negro, explicitando que o racismo brasileiro opera por denegação e simboliza o negro como o lixo da relação cultural brasileira. Dessa maneira, Lélia consegue trazer ao palco a neurose cultural brasileira, que opera ao condicionar o negro como objeto de satisfação da branquitude. O colonialismo busca dominá-lo de toda maneira, mas permanece insatisfeito, renovando sem parar  as formas pelas quais ele atua na política e na cultura.

Lélia já deu o papo que teoria sem prática é caô. Aplicar o que ela trouxe é fazer da vida um corre de transformação e combate ao racismo. Na facul, é colar com os nossos, peitar professor branco que acha que sabe mais da nossa história que nóis memo, botar os livros de Lélia na roda e tensionar o rolê. No trampo, é não engolir sapo, se organizar, exigir que a firma trate nóis com dignidade. Na quebrada, é fortalecer os mais novos, trocar ideia, botar as preta pra se ver como potência e não como resto. Na internet, é afiar a língua, denunciar o racismo, espalhar ideia afiada.  Lélia não queria só intelectual de fala bonita, queria nóis na rua, na luta, no front, cupim roendo esse sistema por dentro e por fora.

 

 Larissa Evellyn Lourenço

G. N. Carlini

Jacyara Silva de Paiva

Carlini - Lariss Evellyn - Jacyara Paiva
Carlini - Lariss Evellyn - Jacyara Paiva
As autoras deste artigo pertencem ao Grupo de pesquisa em educação social , relações étnicos raciais , de gênero e classe que tem por objetivo compreender a educação para além dos espaços escolares a partir das dinâmicas raciais de gênero e de classe. São elas: Carlini, Graduando em ciências sociais pela UFES, Lariss Evellyn doutoranda em ciências sociais na UFES e Jacyara Paiva , professora da UFES, doutora em educação.